Hospital da Criança de Brasília José Alencar realiza Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde
O Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde — organizado pelo Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) em parceria com o Hospital Sant Joan de Déu, de Barcelona —, teve início na manhã desta segunda-feira (24). O evento visa reunir profissionais de diferentes áreas assistenciais interessados no tema “Tecnologias para o cuidado e para a cura”.
Na cerimônia de abertura do evento, a presidente do Congresso e superintendente-executiva do Hospital da Criança de Brasília José Alencar, Valdenize Tiziani, destacou que o Congresso deve permitir um ambiente de troca de conhecimentos para que cada profissional possa ouvir e aprender da experiência do outro e, assim, construir um novo saber ampliado na perspectiva das necessidades das crianças.
“Hoje, a criança e o adolescente são vistos como cidadãos de direito, o que contribuiu para mudanças substanciais nas instituições de saúde pediátrica. Hoje, a criança não é mais um número de leito ou o nome de uma doença. Ela é tratada pelo seu nome. A prioridade no atendimento assegurada por instrumentos legais e robustos fizeram convergir o clamor de famílias, de cuidadores e do avanço moral de uma sociedade que passou a proteger a criança”, afirmou.
Para o presidente do Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe), Francisco Duda, o Congresso é uma forma de que os profissionais de saúde pediátrica busquem como aperfeiçoar o atendimento aos pacientes. “Que nós possamos crescer como pessoas e entender que, seja no Hospital Sant Joan de Déu ou no Hospital da Criança de Brasília, a cada dia precisamos acordar pensando que a criança merece sempre o melhor de nós.”
O conselheiro sênior do Departamento Internacional do Hospital Sant Joan de Déu , Antoni Arias Enrich, pontuou que a cooperação entre hospitais como o San Joan de Déu e o HCB potencializa a capacidade de tratamento de crianças com condições complexas. “A atenção e os cuidados de saúde são locais, mas os problemas são globais. Estamos em um mundo multipolar. Cada vez mais é necessário cooperação entre países e entidades.”
Formas de cuidado
Representando a Organização Mundial da Saúde (OMS), o assistente do diretor-geral, Anshu Banerjee, ressaltou que “os programas de atenção à saúde da criança e do adolescente devem considerar a perspectiva do cuidado ao longo do curso de vida completo do indivíduo”.
Além disso, ele disse que "crianças e adolescentes devem estar no centro do desenvolvimento de políticas de governo” e que “comunidades e famílias devem ser estimuladas a participar no planejamento e na implementação de políticas e programas de saúde para crianças e adolescentes”.
“Intervenções essenciais e os serviços de devem ser devem ser oferecidos a todos, em todos os lugares, adaptadas a necessidade e aos contextos próprios. Os programas devem assegurar um cuidado integrado, centrado na criança, no adolescente e na família, que promova saúde, desenvolvimento e bem-estar.”
Na avaliação do diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência, órgão vinculado à Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, do Ministério da Saúde, Nilton Pereira Júnior, a medicina pediátrica deve sempre buscar oferecer cuidado e qualidade de vida aos pacientes.
“O raciocínio clínico, o cuidado, a atenção, a humanização e todas as abordagens multiprofissionais são as tecnologias mais caras. Não do ponto de vista do recurso financeiro, mas do ponto de vista da importância e da produtividade”, salientou. Além disso, ele reafirmou a necessidade de ampliar a atenção a crianças e adolescentes com doenças complexas.
“Precisamos ampliar os leitos hospitalares, especialmente as UTIs pediátricas. Por meio de nossos programas nacionais, vamos fazer um grande esforço de provimento e fixação de especialistas em todo o Brasil. Isso inclui o intercâmbio de hospitais de alta complexidade, como o Hospital da Criança de Brasília, assim como residência médica.”A secretária de Saúde do Distrito Federal, Lucilene Florêncio, comentou que o governo local quer investir em pesquisa para aperfeiçoar o tratamento para o público infanto-juvenil que lida com condições complexas de saúde.
“Nós precisamos lançar mão de todas as nossas pesquisas. O Hospital da Criança é um celeiro de construção de pesquisas, de formação de profissionais. Então, com esses profissionais sendo formados e a ciência ao dispor deles, eles podem construir novos caminhos”, frisou. Florêncio disse, ainda, que um intercâmbio internacional pode auxiliar nesse processo.
“Precisamos fazer um benchmarking com os outros países. Precisamos estar juntos com todos que estão participando do Congresso, conhecer as experiências deles e ver o que podemos desenvolver aqui.”
Coordenadora de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente do Ministério da Saúde, Sônia Venâncio, destacou que é preciso fortalecer o programa de promoção do aleitamento materno, a atenção primária à saúde e as campanhas de vacinação, além de investir em ações para reduzir a mortalidade infantil e na construção de linhas de cuidado.
“Para a gente conseguir fortalecer todas essas ações, é preciso a parceria do governo federal dos estados, dos municípios e de todas as instituições que trabalham com a gente. Só assim será possível oferecer cuidados integrais a todas as crianças. Que todos os conhecimentos compartilhados nesse Congresso possam efetivamente ser aplicados.”
Nesta tarde, dentro do Congresso Internacional da Criança com Condições de Saúde Complexas, o médico Renato Sabbatini do Hospital da Unicamp -Universidade Estadual de Campinas - apresentou o caso de uma menina de 5 anos com Síndrome de Rett.Rara e de difícil diagnóstico, passou antes por 8 profissionais que não concluíram as causas da involução no desenvolvimento. O estudioso em genética concluiu, após pesquisas, que hoje o tratamento é intrauterino. Sabbatini mostrou o crescimento dos estudos de genômica humana e as soluções da tecnologia, da inteligência artificial nos tratamentos das doenças raras- como o caso apresentado-e as doenças complexas num universo de 9 mil doenças genéticas catalogadas. O médico apontou o futuro na direção da medicina de precisão, individualizada. Ao final, comentou sobre o chatGPT que é capaz de realizar textos para infinitas demandas na internet. Disse que pode operar no suporte de diagnósticos, receitas médicas, tratamentos até de doenças raras, mas sugeriu cautela: "pode haver aumento de autodiagnósticos errados, automedicação que podem levar até mortes ou causar doenças pelo acesso inadvertido" palavras do geneticista.
A professora Dra.Themis Reverbel da Silveira, membro de várias Sociedades Científicas, afirma que "a inovação tecnológica proporciona diagnósticos ágeis, terapias menos invasivas e reduz custos de tratamentos". Themis Reverbel é vice-presidente do Conselho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Embora entusiasta do uso da tecnologia na saúde, Themis reconhece os cuidados que o tema requer. Elencou os avanços nas áreas da terapia gênica, robótica, inteligência artificial e engenharia de tecidos. "A telemedicina é importante no cuidado integral da saúde e organiza a atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS)" disse Reverbel.