O último dia do seminário “Violências de Gênero e Trabalho”, encerrado pelo Tribunal Superior do Trabalho nesta terça-feira (6), foi marcado por debates sobre violência política contra mulheres e os danos à saúde mental de toda e qualquer forma de violência.
Naturalização da morte
Primeira expositora do painel “Violência Política e de Gênero”, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, relembrou a forma como sua família foi diretamente afetada pelo tema: em 2018, sua irmã, Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, foi assassinada com quatro tiros.
Anielle ressaltou que, mesmo em situações como essa, a sociedade ainda tenta normalizar e naturalizar as mortes, que acontecem diariamente. “Não há nada de natural em desumanizar a vida de um ser humano. Não é normal trabalharmos sob esse olhar a violência política, que sempre irá nos afetar, qualquer que seja o espaço”. A ministra disse que ainda sonha em viver em um país melhor e mais seguro. “Precisamos manter essa chama acesa, e é por isso que eu não esqueço, jamais, de onde eu vim e aonde eu quero chegar”.
Pequena representatividade
Segundo Edilene Lôbo, ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o reflexo mais evidente dessa violência é a pequena representatividade na política das mulheres, sobretudo as negras, o que demonstra a forma mais explícita de exclusão. “Enfrentar a violência política é dizer que as mulheres podem e devem ocupar esses espaços”, afirmou. “Precisamos prevenir e combater essa violência ampliando o diálogo com a sociedade e abraçando essa discussão, para assim construirmos um Brasil mais plural”.
Violência estrutural e simbólica
No painel “Violência contra as mulheres e saúde mental”, a psicóloa Bárbara Sordi, professora na Universidade da Amazônia, explicou que as diversas formas de violências podem acontecer de forma estrutural e simbólica também no ambiente de trabalho. “Essas ações se manifestam nas mais diversas formas do assédio sexual e moral, que têm um viés de gênero”, assinalou. Segundo ela, é importante nomear essas violências, fruto de um sistema estrutural social, para promover relações mais saudáveis.
Produção de sofrimento
Para Rachel Gouveia, assessora do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, falar sobre o tema num país estruturado na violência é um imenso desafio, e é preciso trazer para o debate não apenas a experiência técnica, mas todas as pessoas. “A produção do sofrimento não se resume apenas ao indivíduo. Falar sobre questões de gênero envolve homens e mulheres, e as formas de sofrimento são totalmente diferentes num contexto de múltiplos tipos de violência sobre a vida das múltiplas mulheres brasileiras”, finalizou.